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“A criança, ao nascer, instala-se em uma constelação de significações.
Vem preencher muitos desejos, carência, objetos dos pais.”
Alícia Fernàndez
Elas (as crianças) nascem...e a gente pensa:
E agora?
Um bom início é fundamental.
Todos nós temos tendências que se revelam em nossa vida profissional ou privada. Estas tendências se constroem a partir da interação do ser com a sua família e com o seu meio. Nascemos com tendências herdadas que geram processos de desenvolvimento, os quais não podem ocorrer sem um ambiente facilitador.
Winnicott, pediatra e psicanalista inglês, atribui grande importância às influências pessoais e ambientais no desenvolvimento do indivíduo afirmando que certamente definir-se-ão positivamente as tendências daqueles filhos de famílias de “bons pais comuns”, isto é, aqueles que estruturam um lar estável, permitindo que a criança encontre a si mesma e se relacione com o mundo.
É preciso que primeiro a criança atinja o estado do “eu sou” para depois atingir o estado do “eu faço”, isto é, o indivíduo precisa chegar ao “ser” antes de chegar ao “fazer”. Núcleos familiares inseridos em lares estáveis serão determinantes no processo de “ser” dos bebês.
A construção dos lares estáveis passa pela devoção da mãe ou do cuidador(a) primeiro(a) ao bebê, mãe que precisa do suporte do marido ou do restante da família nuclear, sendo que juntos buscarão a compreensão da criança.
É a devoção da mãe que a transformará numa “mãe suficientemente boa”. Mães não precisam ser perfeitas; precisam ser suficientemente boas. Na gravidez e após o nascimento, as mães estão num momento de grande identificação com seus filhos e conseguem satisfazer todas as suas necessidades. Nesta interação mãe-bebê e neste processo de satisfação de necessidades está imbricada toda uma dimensão de comunicação que passa pelo modo como a mãe olha para o bebê, segura-o nos braços, o tom de sua voz.... Podemos afirmar que não basta trocar, higienizar, amamentar; determinante é a forma como isso é feito, os sentimentos que permeiam estas ações. Um bebê pode ser alimentado sem amor, mas um manejo desamoroso ou impessoal, fracassa em fazer do indivíduo uma criança humana nova e autônoma.
Perpassa pelas primeiras interações da mãe e seu lactente, o que Winnicott denominou “o papel de espelho da mãe”: quando o bebê olha para o rosto da mãe, ele vê a si mesmo; a mãe, ao olhar para o bebê, assume uma aparência relacionada com o que ela vê. Mãe e bebê imitam um ao outro. Na verdade, as mães estão devolvendo ao bebê o seu próprio eu (self).
Com um bom início para nossos bebês, é possível termos uma perspectiva mais positiva para a sociedade, pois estes bebês podem vir a ser pessoas mais autoconfiantes e mais confiantes na vida, o que as conduzirá na busca do progresso, da evolução de si mesmas e da sociedade. Por isso, destaca-se a grande contribuição da mãe para a sociedade, sendo que esta deve proteger as mães contra tudo o que se interpuser entre elas e seu bebê. A sociedade precisa ser como um “cuidador” de todas as mães, dando-lhes suporte para que possam estabelecer um bom vínculo com seus bebês.
Na medida em que vão crescendo, as crianças devem ir ganhando em independência e autonomia. Mas não esqueçamos que a base autêntica para as relações de uma criança com a mãe e o pai, com as outras crianças e, finalmente, com a sociedade, consiste na primeira relação bem-sucedida entre a mãe e o bebê. Nos assuntos humanos, os mais complexos só podem evoluir a partir dos mais simples.
Taís Branco Aver
Psicomotricista Relacional e Psicopedagoga
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