Resoluções maternas de ano novo

Na última vez que escrevi aqui falei sobre como a rota das coisas mudam de acordo com as necessidades que estão fora de nosso controle. Saber disso não nos impede, entretanto, de fazer planos e projetos. Ainda bem né? Seria deprimente viver passivamente sem construir uma meta a alcançar.

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Na última vez que escrevi aqui falei sobre como a rota das coisas mudam de acordo com as necessidades que estão fora de nosso controle. Saber disso não nos impede, entretanto, de fazer planos e projetos. Ainda bem né? Seria deprimente viver passivamente sem construir uma meta a alcançar. Aliás na filosofia isso tem um nome: niilismo passivo. Conceito que tiro de Deleuze falando de meu filósofo preferido que estudo desde o mestrado em filosofia, Nietzsche.

Pois bem, esse niilismo passivo é justamente a ocasião da passividade diante dos acontecimentos da vida. E não queremos isso, não é mesmo? Como mencionei ali acima, os projetos nos dão, de alguma forma, motivos pra seguir.

Na maternidade isso é uma mistura de ânimo e frustração. Ano Novo chegou e embora eu não acredite que tudo muda magicamente quando vira a folhinha do calendário, adoro um ritual e fiz vários planos pra esse 2021 já contando com a pandemia que ainda vai demorar pra acabar e com tudo que dela adveio como contei no texto passado.

Meus planos pra 2021 são simples e no maternar são necessários, mas isso não significa necessariamente que são planos fáceis e aí é que "tá" a bronca. Na verdade só quero acordar mais cedo e estudar, conseguir mais tempo pra mim mesma sem negligenciar o bebê, caminhar a tarde no por do sol quem sabe pra aqueles tais quilos finalmente se dissiparem.( Afinal, não estamos mais no apartamento e aqui sentada no meu banquinho do privilégio da até pra caminhar de máscara no condomínio classe C). Quero também me reorganizar pra conseguir voltar ao trabalho de onde me afastei pra cuidar da saúde mental e sei que isso implica necessariamente (necessidade, lembra que falei?) encontrar uma forma de deixar minha bebê em casa sem expô-la ao vírus além do que já será comigo estando trabalhando todos os dias fora de casa. Daí que o ano começou, a folhinha do calendário virou e coloquei no papel algumas técnicas pra colocar em prática os tais planos (é porque não adianta ter planos sem delimitar os meios pra realizá-los, né? Planejamento estratégico é o nome dessa gestão de tarefas. E apesar de ser algo que advém da iniciativa privada, acho que dá muito bem pra aplicar na vida).

Então, planos novamente desenhados como que numa luta por esperança sem muitas ilusões, o que eu chamaria, novamente a exemplo de Deleuze citando Nietzsche, de niilismo ativo. Um pelo qual o Sr. N ( como apelidei Nietzsche) milita em sua filosofia trágica. Mais ou menos como saber que as coisas são caóticas, que a vida tem seus dissabores, mas construir valores próprios e seguir apesar de...

Daí que na realidade das resoluções maternas de ano novo os planos já começaram dando errado aqui (viver é assim, não é mesmo?). Na primeira tentativa de acordar bem mais cedo pra estudar e terminar a dissertação em direito e a tese em filosofia, já sobreveio uma noite muito mal dormida do bebê na cama compartilhada (que julgo melhor que o berço justamente por causa das inúmeras levantadas noturnas) e a inevitável sensação de "putz, nada de novo, tudo igual outra vez. E agora?". 10 minutos de desespero depois e com a mega olheira de mãe pensei naquele niilismo ativo que mencionei e já reverti a órbita do planejamento pra um ponto chave: transvalorar valores. De novo Nietzsche que aparentemente tô usando indiscriminadamente como autoajuda (perdão Sr. N, mas tem sido necessário). A real é que não há nada de errado em construir resoluções e ter metas e planos pra alcançar num prazo delimitado pelo tempo, mas é fundamental que transvaloremos os valores do que está posto e construamos nossos próprios meios de fazê-lo. Explico:

Está tudo bem não cumprir as metas na ordem. Assim como está tudo bem não cumprí-las. Com tanta cobrança em cima das mães, eu diria que transvalorar valores seria mais que nunca sermos gentis conosco mesmas. De novo milito aqui por construir nossas próprias formas.



Alianna Cardoso Vançan 

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