Quando nada mais resta
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"Enquanto avançamos aos tropeços, quilômetros a fio, vadeando pela neve ou resvalando no gelo, constantemente nos apoiamos um no outro, erguendo-nos e arrastando-nos mutuamente..." com essas palavras Viktor Frankl começa um dos meus textos preferidos do livro "Em Busca de Sentido" e eu acho que cabe muito bem no nosso momento atual. Enquanto Frankl se referia ao literal, eu me refiro ao figurado, com o mesmo desfecho: coletividade. 2020 exigiu um espírito coletivo muito forte em cada um de nós, ora fazendo as compras pro vizinho do prédio, ora usando máscara pensando no bem estar de alguém além de si mesmo. Ajuda financeira, alimentar, afetiva, básica. Solidariedade. Cuidado genuíno com o outro. Precisamos, em muitos momentos, reconhecer nossas fraquezas. Reconhecer que não seríamos capazes de passar por essa sozinhos. Que precisávamos de ajuda e que tudo bem precisarmos de ajuda. Nos momentos mais intensos de dor, de perda, nos vimos passando pela beira entre a vida e a morte. Uma enxurrada de incertezas, inseguranças, pânico, luto, caos. Ninguém passou ileso. Ninguém!
Na passagem que citei, Frankl passeia por pensamentos que o mantinham vivo em meio ao hediondo caos de Auschwitz. Ele se via em uma existência contemplativa, agarrado ao sentimento pela pessoa amada, mesmo sem saber se ela vivia ou não. Uma pandemia nos obriga a reencontrar propósito, a agarrar qualquer resquício de saúde mental que se mantém e enfrentar mais um dia. 2020 foi isso, enfrentar!
Que as baixas desse ano nos ensinem a enfrentar a vida de uma forma mais empática, coletiva e sensível. Entendendo nossas vulnerabilidades e nossas forças. A luta do outro, mesmo tão diferente da nossa, também pode ser nossa com um olhar mais cuidadoso e menos cruel. Respirando, chorando, o ano virou. Nós também viramos: do avesso!
Suelen Marini
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