O abraço de quarenta e sete anos
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Um abraço,
Quando completei meus quarente e sete anos, já estávamos e em meio a pandemia no ano de 2020, nesse momento caótico, receber um abraço foi o melhor e mais valoroso presente que eu poderia receber.
Sim um abraço, pode parecer bobagem para os que não estão vivenciando este triste momento, mas vai por mim abraços, beijos, apertos de mão e até conversas próximas se tornaram tão raros quanto o antimônio.
Contato físico o que é isso?
Ao me abraçar, meu pai me disse ao ouvido “eu te amo” e sorrindo seguiu dizendo “são quarente e sete anos, você vai ter de se esforçar muito para dar um abraço no teu filho quando ele completar quarenta e sete anos”.
Naquele momento eu sorri envolto naquela atmosfera feliz, mas logo depois, parei para pensar sobre aquela frase.
Sou um pai velho é verdade.
Quis o destino que eu o descobrisse a paternidade aos quarenta e seis anos.
Relembrei minha alegria incondicional ao sentir o cheiro, a textura da pele do pequeno Benício, aqueles olhinhos pretos descobrindo o mundo pela primeira vez.
Acompanhei aquele serzinho, pelos corredores do hospital: pesagem, registro, exames, vacina e o sorriso feliz dos avós do outro lado do vidro.
Lembrei do primeiro banho no hospital e de como eu não tinha jeito para segurar aquela joia rara e preciosa, que se apequenava em minhas mãos.
Aquele momento das trocas dos infindáveis cocôs e xixis as vezes acompanhados de um bom vômito pela roupa.
A alegria dos primeiros passinhos, segurando com sua mãozinha a ponta de meus dedos e de sua mamãe e nosso coração em êxtase ao verte correndo em gargalhadas, sentido que ali estava todo teu apoio.
Eu me projetei no tempo e espaço,
Quarenta e sete anos é um bom tempo não? Passou tão rápido para mim.
Volto a frase de meu pai e começo a fazer contas.
É bem provável e praticamente certo de que eu não darei este abraço,
Quarenta e sete anos, os números estão contra nós pequenino.
Claro que meus cálculos seguem o rumo certo da vida, aquele em que os pais partem primeiro que os filhos.
Sem tristeza, na verdade tudo precisa ser mais intenso.
Futuro incerto, sim todos temos!
Mas planejar sempre é bom, depois a vida vai seguindo seu curso, vamos transformar o abraço de quarenta e sete anos, em vários abraços e beijos até o tempo que der.
Vou me espalhar na memória, em tempo, talvez eu perdure em algum vídeo na nova era, ou ainda quem sabe tu possas falar de mim pelo tempo.
Tempo a única coisa de valor que temos, mas que na verdade não damos valor.
Quanto tempo você tem passados com seus entes queridos?
Quanto tempo você gostaria de estar passando com eles?
É um momento de ressignificar, de ver o que realmente importa, tenho certeza de que você é bem mais do que três segundos,
É preciso desacelerar, buscar uma nova frequência.
É preciso ouvir os batimentos do coração, sim já tentou isso?
O silêncio absoluto para escutar a você mesmo.
Quem sabe você comece hoje a construir o teu abraço de quarenta e sete anos.
Israel Cabral
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