Na prática
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Sumiu!
Estava aqui jantando meu queijo, copa e vinho, as palavras jorrando cabeça acima assim como o vinho que estava descendo garganta abaixo.
Um monte de assunto!
Preguiça de parar de comer para pegar a caneta… ...mas era quase uma obra-prima saindo, que resolvi ir até o atelier pegar uma folha.
Voltei.
Sentei.
E, sumiu!
Zero palavras, e a copa e o queijo abandonados, a ameaçar essa folha com suas gorduras.
Eu estou tentando retomar os pensamentos, ao me perguntar o que sei fazer, porque escrever me parece que está difícil.
Hoje, acho que sei fazer um bom tendue (se for lento, é claro) – vai pelo calcanhar, volta pelos dedos, forçando o chão. Também sei pipetar cinquenta microlitros de Solução de Turck para contar leucócitos. Sei tricotar. Sei plantar. Sei, cada vez mais, sobre o que gosto de aprender. Normalmente sei dizer não (o que é quase vencer na vida!). Prefiro fazê-lo de forma indireta, mas se forçada, o não sai da minha boca quase como uma facada, brrr…. Sei fazer minhas unhas. Sei criar com tudo o que sei.
Daí que, como da minha mente estava saindo tanta “seizarada”, pensei em escrever sobre isso; só que quando fui lá…. ...zupt, a “sabedeira” sumiu e fiquei aqui, pendurada na caneta.
Hoje é noite de sábado, vamos ver se domingo brota algo nessa cabeça cheia de cabelos.
Por ora, volto pro meu vinho.
Ah, pois é! Já é segunda (vejam que deixei um monte de espaço no papel) e no trecho anterior me gabei de várias coisas que sei. Juro que devo ter algo de Leão no meu mapa astral, porque só Peixes com ascendente em Peixes não teria me permitido isso…
E o que eu não sei, hein????
Pausa de dois minutos.
Kkkk, minha mente não me mostra...
...aiii, o Ego...
Mais reflexão então!
Demorou menos, agora.
Não sei me desvincular facilmente das coisas e pessoas com quem/que me envolvo. Bah, toma um tempão e é sempre sofrido. Não sei cozinhar e, sinceramente, não quero aprender. Tenho certeza que tem gente muito boa nessa área e eu prefiro aproveitar o talento delas a submeter as pessoas à minha falta. Também não sei pilotar um avião (como minha amiga Lijun), mas me resolvi com um marido que sabe dar conta dos meus dois “não-seis” acima.
Quem não tem cão, caça com gato!
Não sei tocar um instrumento. Nesse caso, adoraria saber, mas queria ter nascido sabendo; a energia necessária para aprender me fez desistir do piano e do pandeiro. De qualquer forma gostaria de estar na pele de quem toca, deve ser tão bom quanto surfar (que também não sei).
O que interessa, me parece, é a gente ir dando um jeito, encontrando soluções. Ir indo (sic).
Resolver os desejos e as faltas aprendendo ou encontrando alguém que nos ensine, faça melhor ou nos ajude a fazer.
O outro.
Só somos, em relação ao outro.
A outra forma de ver nos ensina e nos define, pois nos mostra nossos “seis” e “não-seis”.
E ai, quando a gente acha que está tudo resolvido, vem a questão do movimento.
Ouvi uma frase do Churchill, num filme: “Quem não muda de opinião, não muda nada”.
Talvez o que eu esteja tentando dizer é que é preciso estar um pouco “frouxo” nos saberes e não -saberes, pois talvez, saibamos menos do que pensamos e, ao mesmo tempo, saibamos mais do que percebemos.
Um pouco “frouxo” para dar espaço para o movimento acontecer, sem bloqueá-lo. Como se fosse SEGURAR-SE às certezas, mas não SER as certezas.
Reflito muito sobre o movimento, é uma área que me interessa muito. Dançar. Dançar a vida, antes de tudo.
Como ter um corpo que se move com fluência? Parece que ter ideias “frouxas” ajudam. Poder soltar-se das certezas e escolher novos pontos de ancoragem.
Equilíbrio pressupõe constante movimento.
Passaram-se 15 dias de férias, até que eu retomasse esse texto.
E de tudo o que coloquei no papel, mil teorias (aqui, aquele e-moji que revira os olhos pra cima), fica a informação de que só aprendo na prática e imagino que vocês também. Conto o que tenho no corpo hoje, de modo que todas estas conjecturas me levam ao entendimento de que SÓ SOU, SENDO!
O resto é balela!
Cristina Lisot
Multifacetada, Cristina Lisot pensa e faz arte contemporânea nas suas diversas linguagens e desdobramentos estéticos. É bailarina, figurinista e bioquímica, além de reunir diversas criações na produção têxtil e de objetos, onde atua reciclando materiais e ressignificando-os, unindo sua visão plástica à produção artesanal em pequena escala. Desenvolve projetos conceituais nas intersecções da saúde, moda, dança, teatro e cultura em geral.
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