MULHERES EM DANÇA
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No ano de 2016 conheci Kelen, bailarina de dança do ventre, em uma oficina do projeto Dancei, onde eu era a proponente, com o objetivo de unir a diversidade através da dança contemporânea. Kelen frequentou vários encontros e, captando a ideia do trabalho, sugeriu montarmos uma turma para ensinar o estilo que ela tem mais experiência e aprecia.
Na cabeça dela, seria uma pesquisa sem compromisso e valores, para possíveis interessadas na dança do ventre junto com minha experiência corporal. Na minha mente, pensei em ser uma aula regular e convidar tanto mulheres quanto homens para esses encontros, cobrando um valor mensal pelas aulas. Alinhamos os pensamentos e, para início, a professora não queria homens, porque o foco seria outro, apesar de existir essa modalidade de dança para o sexo masculino. Montamos uma oficina para divulgar a aula e as pessoas interessadas se inscreviam para participar. Para surpresa nossa, a procura foi grande e, para não prejudicar o deslocamento durante o período de uma hora de aula e o tamanho do espaço, fizemos dois horários no mesmo dia.
Na prática, nem todas apareceram e as duas turmas poderiam ter ficado numa só, mas mesmo assim, para começar, conseguimos montar uma turma e até a possibilidade de ter aula por dois dias. Acabou ficando só na terça. Grata surpresa nossa que conseguimos um bom número de início e uma ampla diversidade.
Assim que possível levei o grupo para demonstrar numa disciplina onde sou sempre requisitada a contar um pouco da minha história de vida e a mostrar a experiência adquirida na dança. A turma ficou bem entusiasmada com essa oportunidade e gostou da ideia de se apresentar em vários lugares. Estou gostando muito da experiência e também deixando de lado o preconceito que tinha em relação a dança do ventre e do corpo padrão para ela.
Conforme fico sabendo de oportunidades de apresentações e a oportunidade de mostrar o que significa minha marca “Corpos Diversos”, vou convidando o grupo para perder o medo de mostrar o que foi criado ao público e aceitar esses convites. Depois do primeiro convite, montamos um projeto para um edital em nosso município, com o objetivo de ocupar os museus da cidade com diversas atividades culturais. Fomos selecionados e ainda recebemos o primeiro cachê, mostrando para todas como reconhecíamos a evolução delas e que o nosso intuito não é que sejam profissionais sem erros, sobretudo que apresentem o brilho de estar fazendo algo que gostam, mostrando para público como a diversidade pode estar em cena sim, e com qualidade.
O significado dos “Corpos Diversos” está começando a ser reconhecido na cidade e nós estamos conseguido ampliar essa questão.
Metodologia das Aulas
Até eu entrar no grupo não sei como funcionava, mas após a minha inserção, senti bastante diferença em relação as outras aulas e profissionais com quem eu trabalho. Não sei se é por falta de experiência de trabalhar com um corpo deficiente, medo ou se pelo método da professora mesmo. E também pela minha diferença em relação ao grupo. Por mais que da boca para fora eu falasse que não era cobrança profissional para mim era isso que desejava. A correção, a precisão do movimento, trabalho de dançar no ritmo apesar da minha dificuldade nesta parte, o engajamento de todo o grupo e que todas andassem no mesmo pensamento que eu.
Ao mesmo tempo que tive de remodelar minha intenção, porque cada grupo ou profissional tem sua forma e objetivo de aula, eu ficava cada vez mais empolgada porque a profissional responsável pelo grupo me dá essa liberdade. Ajuda alimentar meus pensamentos.
Conforme fui sendo convidada para mostrar meu trabalho, repassei esse convite para elas. A primeira experiência foi na FSG onde falei sobre minha história de vida e o grupo apresentou o processo que estava sendo criado. Nesta oportunidade ainda não estava dançando este estilo.
Tivemos a oportunidade por algum período de ter uma deficiente visual no grupo além de mim, que sou deficiente física. Foi neste período que comecei a ampliar minha participação nos encontros, porque no início a coreógrafa marcou os encontros com essa menina em um dia distinto do grupo.
A DV (nasceu cega de seis meses) não ficou por muito tempo nas aulas porque não conseguia lugar para dormir, já que as aulas eram a noite e ela morava numa cidade próxima a Caxias do Sul e que não tinha ônibus após o termino da atividade. Com ela, os ensinamentos eram pela descrição e pelo toque, quando só a fala não funcionava. Eu continuei e voltei para o horário onde todo o grupo se encontra. Fizemos uma segunda apresentação e primeira oportunidade minha num evento em meu espaço feito para o dia das mães. Foi interessante, mas me senti despreparada e insegura. Estava empolgada pela ideia e o evento, sobretudo não gosto de fazer algo sem estar dominando.
Estou aprendendo agora que o processo faz parte da nossa vida. Eu queria sempre o resultado e algo perfeito.
As aulas em si são basicamente criação de coreografias e os passos específicos da dança do ventre de uma forma mais informal e menos cobrada para evolução. Algo mais flexível. Outra questão que tive que me modificar ao menos ali com este grupo porque sou muito chata com o detalhe e a intenção do movimento. Montamos muitas coreografias de forma rápida sem o objetivo de limpar os movimentos e mesmo assim ficou muito bonito.
A professora sempre frisando o poder da mulher e eu me sentindo entusiasmada, convidei para participar de um edital da prefeitura de nossa cidade, onde quem se candidatasse iria se apresentar nos museus. Projeto “Museu Arte Viva”. Fomos selecionados para estar presentes em julho de 2018 no Museu de Forqueta num domingo. Primeira oportunidade com cachê e reconhecimento do trabalho que estávamos desenvolvendo.
Neste período comecei a ficar preocupada mais um pouco. Nosso grupo tem momentos que é amplo e momentos que está menor com muita diversidade. Pessoas com e sem experiência em dança e apresentação. Já estava conseguindo trabalhar em mim que a apresentação seria algo sem a exigência de um profissional em dança mesmo que iniciante. Seria algo para nossa diversão e para mostrar ao público do que somos capazes.
No domingo escolhido pela Secretaria da Cultura ficamos o dia inteiro a disposição de nos apresentar somente com a parada para o almoço. Não esperávamos ter público por ser num lugar distante do centro e domingo. A cidade não tem característica de prestigiar momentos culturais principalmente num dia de descanso e mesmo sendo gratuito. Mesmo assim tivemos momento com público e um dia gostoso para se passar. O local disponibilizado para nossas coreografias não era adequado e demos conta do recado mesmo assim.
Depois deste evento, tivemos uma redução no grupo e novas interessadas nas aulas. No primeiro e segundo semestre de 2018, tivemos a observação de dois grupos de psicologia da UCS. Algo novo para nós e importante para o histórico e evolução do Espaço Ser.
Recebi um convite da escola da professora para falar da minha história e para que fizéssemos uma apresentação também. Foi outra experiência muito válida e para alunos com diversas faixas etárias.
Em 2019, nos inscrevemos para o evento Virada Sustentável em Porto Alegre, no mês de maio, onde a professora e eu fizemos uma oficina para Corpos Diversos onde misturávamos o contemporâneo com a dança do ventre. Foi uma experiência muito boa e uma forma de divulgar nosso trabalho porque esse evento acontecia em todas as capitais do Brasil.
Roberta Spader
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